segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Entrevista a Nuno Matos


No seguimento do nosso segundo aniversário e como tínhamos já referido, iniciamos hoje mais uma série de entrevistas que realizamos a pilotos de renome, nacionais e internacionais. Ao longo dos próximos dias iremos publicar as entrevistas, fique por isso atento!

Nuno Matos, o vencedor da edição de 2010 da Taça FIA de Bajas no T2, foi o nosso primeiro convidado. O piloto de Portalegre é já um grande valor do Todo-o-Terreno Nacional, ou não tivesse alcançado 4 títulos em 4 anos de corridas. Nuno Matos iniciou-se no TT em 2003, na Baja de Portalegre, mas apenas em 2007 realizou um campeonato na totalidade no agrupamento T8, o qual acabou por vencer nesse seu ano de estreia. 2008 a história repetiu-se e o jovem sagrou-se Bi-Campeão Nacional de T8, sempre ao volante de um Nissan Terrano II. No ano seguinte Nuno Matos decidiu dar o "salto" para o T2, com uma Isuzu D-Max e voltou a ser campeão. Neste ano de 2010 a aposta na internacionalização também se revelou acertada e o portalegrense venceu a Taça FIA de Bajas T2, sendo o 3º português a alcançar um título internacional na modalidade (depois de Carlos Sousa e Rui Sousa).

Nuno Matos, que tinha sido o nosso primeiro entrevistado em 2008, voltou a responder às nossas perguntas:

Foste bicampeão nacional de T8, campeão nacional de T2 e agora campeão internacional também no agrupamento T2. A Próxima época passa pelo salto para a categoria T1?

A única coisa que está definida neste momento é que vamos disputar a 24ª Baja Portalegre com a nossa Isuzu D-Max e festejar a conquista do título mundial na Taça FIA de Bajas junto do “nosso público”. Estamos neste momento a estudar algumas hipóteses, para depois e no momento certo decidirmos o que vamos fazer em 2011. Mas não tenho o objectivo de passar para o Agrupamento T1 a todo o custo. Afinal,esta foi apenas a minha quarta época completa no TT.

Na última vez que falámos contigo disseste-nos que o teu carro de sonho, na altura, seria a Isuzu D-Max, carro que utilizaste nos últimos dois anos, com o qual aliás conquistaste também dois títulos. Certamente que as tuas ambições aumentaram e por isso, voltamos a colocar-te a mesma questão. Qual é o carro que gostarias de pilotar no futuro?

Viabilizar o projecto T2 na altura foi efectivamente o concretizar de um sonho que se estendeu depois com a conquista dos dois títulos no agrupamento, primeiro o nacional e agora o mundial. Com tantas coisas inesquecíveis mas reais que me têm acontecido de lá até agora, não tenho tido muito tempo para sonhar! Até porque, como disse, este ano ainda existem desafios reais para concretizar. Só depois disso me permitirei sonhar com a próxima época ou se, disso for caso, no próximo carro.

Pensas que poderás disputar um Dakar num futuro próximo? Ou, para já, está fora de hipótese?

Sinceramente é algo que gostava muito, ainda mais depois de ter feito este ano o Rali TT Estoril – Marrakech, mas não é algo que tenha como objectivo concretizar a curto prazo. Quem sabe um dia… Mas existem outros desafios que, embora menos mediatizados, considero igualmente aliciantes.

Este ano disputaste várias provas internacionais. Qual a prova, fora de país, que te deu mais prazer fazer e porquê?

É verdade, tenho dito várias vezes que este é um ano para definitivamente nunca mais esquecer. Afinal, o título foi só a cereja em cima de um bolo fantástico, recheado de desafios e experiências que jamais esquecerei. Mas a prova da Rússia, a primeira do calendário, foi aquela que, quer no plano desportivo quer no plano pessoal, por tudo o que vivemos antes, durante e depois da prova, mais me marcou. Para começar, porque tivemos muito pouco tempo para preparar a prova. Depois, toda a infindável burocracia necessária para garantir a entrada no país foi, só por si, um desafio enorme ao qual juntamos todo o trabalho de adaptação do nosso camião, (que havíamos acabado de adquirir) às nossas necessidades. A prova propriamente dita foi fantástica: a experiência de pilotar sobre neve e gelo foi inesquecível. Desportivamente também correu muito bem, vencemos um dos sectores e recebemos muitos elogios dos pilotos mais experientes naquelas condições. Depois, a festa de encerramento e o retorno garantido durante a participação foram, como disse, uma excelente rampa de lançamento para o resto da época e tenho a certeza que paralelamente o espírito de equipa saiu muito reforçado depois de tudo o que passamos durante aquela semana.

Inicialmente pretendias fazer apenas a Taça FIA de Bajas, mas acabaste por te inscrever no campeonato de Portugal, no entanto a anulação da Baja do Clube Automóvel do Algarve deitou por terra todas as hipóteses que tinhas de ser também campeão de Portugal de T2. Como encaraste a anulação desta prova?

Sim, ainda que esse não fosse o nosso objectivo para este ano, acabamos por, com algum sacrifício, estar presentes nas provas do Nacional onde aproveitamos para, testar algumas soluções na nossa D-Max e continuar o trabalho de melhoria e desenvolvimento de novas e melhores soluções dos pneus Fedima. Em relação à anulação da prova do Algarve, na altura, tornámos publica a nossa posição e penso que é lamentável o que aconteceu. A mudança de regras a “meio do jogo” é obviamente má e no nosso caso concreto retirou-nos a possibilidade de vencermos porque simplesmente passamos a poder fazer menos uma pontuação que todos os nossos adversários. No entanto, para nós é algo que já faz parte do passado e apenas espero que todos tenham aprendido com os erros para que não se repitam no futuro porque, uns mais que outros, acredito que todos saímos prejudicados com esta decisão, principalmente a modalidade.

Este ano estiveste perto de vencer uma prova à geral, no Ervideira Rali TT 2010, contudo um problema mecânico “deixou-te” fora da corrida bem perto do final. Como te sentiste naquele momento? Pensas que no futuro poderás alcançar esse feito?

Dizem que há oportunidade que só acontecem uma vez na vida… Não sei é o caso, mas seguramente que será muito difícil repetir-se um cenário como o que se passou no Ervideira este ano. Mas sim, foi muito difícil aceitar que as porcas da nossa D-Max tenham partido sem que nós tivéssemos cometido nenhum excesso que o justificasse. Foi a primeira vez que uma desistência me custou verdadeiramente aceitar, mas já que não pudemos saborear o feito de vencer pela primeira vez com um carro T2 uma prova do CPTT, sobra-nos o consolo de que quase o conseguimos. Aliás a experiência foi tão marcante que sobre tudo isso escrevi na altura uma crónica .

Ainda estão por disputar duas provas do campeonato de Portugal. Como vais encarar o Rali TT Terras da Raia e a Baja Portalegre, onde irás correr em casa?

O Rali Terras da Raia é uma prova de que gosto bastante mas depois da anulação da Baja do Algarve e concretizados que estão os objectivos na Taça FIA decidimos que não vamos estar presentes, pelo menos como concorrentes. Em relação a Portalegre, sei que depois de um ano fantástico como este pedir mais essa vitória pode ser pedir de mais. Em principio tudo estará decidido também ao nível do CPTT, por isso, com certeza que todos vão dar o seu melhor para ganhar a mais emblemática prova do nosso calendário. Nós seremos com toda a certeza mais uma das equipas que tudo fará para poder vencer e no caso fechar o ano com “chave de ouro”.

Por fim gostaríamos que nos contasses uma história mais engraçada que te tenha acontecido no Todo-o-Terreno.

Foram algumas ao longo deste ano. Mas o Estoril-Marrakech, também pela sua duração, teve muitas, desde logo porque nos perdemos diversas vezes na adaptação à navegação em Marrocos. Na primeira etapa, por exemplo, fizemos mais 30 quilómetros do que previsto no road book e penso que dos que não tinham experiência fomos dos que nos “safamos” melhor. Depois, na areia, também foi terrível, com “atascanços” sucessivos e alguns erros de principiante. Mas das várias coisas incríveis que Marrocos tem uma delas é seguramente o facto de que cada vez que paramos, ainda que pudéssemos pensar que estávamos entregues apenas a nós próprios, rodeados de uma imensidão de nada onde apenas tínhamos pedras, a verdade é que em 5 minutos estávamos rodeados de crianças ou adolescentes que como que por magia apareciam junto de nós. Alguém havia de estudar esse intrigante fenómeno.

Quero desejar também à Mais TT as maiores felicidades e muitos parabéns pelo segundo aniversário. Tive o privilégio de ser o primeiro entrevistado do vosso site, e agora, passados dois anos, é com muito gosto que respondi de novo a mais algumas (muito bem feitas) perguntas vossas.

O MaisTT deseja ao Nuno as maiores felicidades para o futuro. Um abraço do Luís Marques e do Manuel Cordeiro.


Por Luís Marques e Manuel Cordeiro | MaisTT