sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Entrevista a Filipe Campos


Com o aniversário do “MaisTT” iniciámos um série de entrevistas que começou ontem com a de Guerlain Chicherit. A entrevista que se segue é ao actual campeão nacional de TT, que luta pela renovação neste ano de 2009, Filipe Campos. O piloto, que actualmente tripula um BMW X3 CC do Yser Racing Team e que é preparado pela X-Raid, nasceu a 21 de Setembro de 1957, no Porto.
Antes do Todo-o-Terreno praticou vela, modalidade na qual foi campeão nacional. Iniciou-se no TT em 1985 de mota, mas foi em 1987 que começou a competir de automóvel, não tendo parado até hoje. Com dois títulos nacionais absolutos, dois no agrupamento T2, um no agrupamento T3, um no agrupamento T1 e um título Ibérico, o piloto conta assim com um vasto palmarés recheado de triunfos e espera este ano garantir mais um título nacional absoluto.

Já praticaste desportos aquáticos e foste mesmo campeão nacional de vela. O que te fez experimentar o todo-o-terreno?
Deixei de praticar vela quando vi que não tinha qualquer hipótese de lutar pelas primeiras posições. Deixei de ser competitivo e mudei. Esta é a minha postura. Eu gosto de ganhar e a competição para mim é importante se eu estiver na luta pela vitória. É assim que isto se passa no Todo-o-Terreno. Para mim não faz sentido entrar numa corrida única e exclusivamente para marcar presença ou para garantir um resultado que não pela vitória. Como se diz no futebol, não gosto de “jogar para o empate”.

És o piloto mais antigo no activo no campeonato nacional, que balanço fazes de toda a tua carreira?
É realmente uma longa carreira de 23 anos dedicados ao TT. O balanço é bastante positivo em todos os aspectos, tanto desportivos como sociais. Perdi muitas corridas e ganhei muitas outras, mas sempre com o mesmo espírito que é o de tentar vencer. Esta é uma modalidade de que gosto muito e que, acima de tudo, me faz “ferver o sangue”. Tem sido sempre assim e o melhor exemplo disto que digo está na forma como esta temporada tem sido disputada...

Tens algum sonho no Todo-o-Terreno por cumprir?
Julgo que disputar o Dakar será o sonho de qualquer piloto de todo-o-terreno. Eu não fujo à regra!

Quais são os planos para o ano de 2010? O Dakar ou o Africa Race passam por esses planos?

Ainda não temos planos para o próximo ano. Estamos muito empenhados no programa desportivo que foi delineado para esta época e que passa por revalidar o título de Campeão de Portugal de Todo-o-Terreno. Por outro lado, a nossa aposta também passava por realizar a Baja de Aragon, em que apostámos forte e conseguimos um bom resultado. Adicionalmente apareceu a hipótese de lutar pelo Troféu Ibérico, nomeadamente através do meu colega de equipa e mentor da Yser Racing Team, o Bernardo Moniz da Maia, e, por tudo isto é fácil de concluir que estamos focados na temporada de 2009.

Como vês o “novo” Dakar disputado na América do Sul?

Pelas imagens e pelas informações que tenho sei que se trata de uma prova espectacular, tanto pelas pistas como pela paisagem.

Experimentaste recentemente um dos BMW X3 mais evoluídos da X-Raid, o do Stéphane Peterhansel. Quais as principais diferenças entre este carro e o que habitualmente tripulas no CPTT?
Havia diferenças a nível de diferenciais e suspensão que eram notórias no comportamento do carro. Digamos que o meu carro " andava para trás e o outro para a frente ". Porém, o meu carro também foi alvo de um “upgrade” e já na Baja de Beja utilizei uma nova configuração de diferenciais que representou um avanço considerável. Sinto o carro muito menos solto e isso permite-me tirar mais proveito do motor. Isto nota-se muito nas saídas de curva com o carro em desequilíbrio. O carro que guiei em Espanha estava também diferente em termos de suspensão, mas essa evolução não está nos nossos planos, ainda que tenhamos consciência de que é um ponto no qual também teremos que mexer.

O Yser Racing Team vai deslocar-se a Espanha mais uma vez para disputar o Rali TT Tierras del Cid. Para além do CPTT, os teus objectivos passam também pela vitória no troféu Ib
érico?
O meu objectivo é ajudar a nossa equipa a ganhar todas as competições em que estamos envolvidos. Recordo que o Bernardo Moniz da Maia é quem lidera a tabela de ponto do Troféu Ibérico de TT e no sentido de o ajudar nesta missão que vamos disputar a Baja Tierras d’El Cid.

Venceste a Baja de Beja, recuperaste preciosos pontos para o campeonato e é possível que o Carlos Sousa não esteja ainda totalmente recuperado
para fazer a próxima prova em Castelo Branco.

Caso isto aconteça, como encaras a próxima prova? Achas que de alguma maneira tens a tua tarefa facilitada e possas assim dar um bom passo rumo ao título?
Antes de mais devo sublinhar que a ausência do Carlos me entristece bastante e já tive oportunidade de lhe dizer. Acho que o Carlos faz muita falta ao campeonato e tenho muita pena se ele faltar também à prova de castelo Branco. Falando da minha postura em relação ao próximo evento, encaro sempre as provas da mesma maneira, ou seja para ganhar. Não concebo as corridas de outra maneira. No início do ano as coisas não nos correram tão bem como esperávamos e o Carlos Sousa entrou muito forte. Fizemos excelentes corridas, mas ainda faltam duas provas para o final do campeonato e a nossa estratégia só pode passar por ganhar cada uma delas. Reconheço que se o Carlos não estiver presente na próxima prova, o que espero sinceramente que não aconteça, terei a vida facilitada mas em 1º lugar é preciso acabar a prova e mesmo que ganhe nada fica decidido. O título será discutido em Portalegre.

Qual é, das provas do campeonato, a que te dá mais prazer fazer? Porquê?

Há várias provas que são do meu agrado, mas a de que gosto mais é certamente o Rali Transibérico. Trata-se de uma prova longa e onde estão presentes os melhores pilotos da modalidade o que nos obriga a dar o nosso melhor. A prova de 2009 foi um excelente exemplo daquilo que digo. Tivemos dois excelentes pilotos estrangeiros, o Roma e o Chicherit, que aliás, acabou por ganhar em Portugal a Taça do Mundo, e a presença deles foi o mote para tentarmos aumentar o ritmo. Isso agrada-me muito.
Por outro lado, a Baja 500 Portalegre, foi a primeira prova de todo-o-terreno em Portugal e pela qual todos os pilotos tem um carinho especial. Aproveito para enviar à equipa do José Megre um grande abraço por garantirem nestes 23 anos uma prova de grande qualidade. Esta prova tem um factor adicional de extrema importância que se prende com o muito público presente.

O Mundo atravessa actualmente uma grave crise económica que se reflecte bastante nesta modalidade. Quais consideras serem as medidas mais correctas a tomar para atenuar a situação?
Acho que se me coubesse a mim tentar dar impulso nesta disciplina optaria por três mediadas que parecem fulcrais: Em primeiro lugar reduzir o número de provas. Por outro lado, baixar os custos de participação, nomeadamente das inscrições. Por fim, acho que a Federação deveria ter um papel me muito maior preponderância no apoio ao desporto. Tudo isto se resume nesta ideia: é preferível ter quatro ou cinco provas de bom nível, com cobertura televisiva, baseadas no meio das cidades para criar maior envolvência com o público, e tudo isto acompanhado por uma divulgação condigna que nos permita dar retorno aos nossos patrocinadores. Antes de terminar gostava de dar os parabéns ao MaisTT com votos de que dêem continuidade ao vosso trabalho de promoção do Todo-o-Terreno.

MaisTT - Luís Marques e Manuel Cordeiro